quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Dez manguezais no Espírito Santo
Arthur Soffiati* - 31/08/05

Depois de me deter demoradamente no estudo dos manguezais situados entre os rios Itapemirim (ES) e São João (RJ), avancei para o norte do primeiro e para o sul do segundo em algumas excursões de campo. Nos feriados da Semana Santa de 2004 e 2005, rumei para o Espírito Santo com o fim de verificar preliminarmente a situação de dez manguezais: dos rios Jucu, Congo, Una, Perocão, Meaípe, Parati, Benevente, Iconha, da Lagoa da Conceição e da Baía de Guarapari.

Nunca é demais caracterizar minimamente o manguezal para o leitor não familiarizado com ele. Trata-se de um ecossistema que normalmente se desenvolve na foz de rios, entre a terra e a água e entre a água doce e a água salgada. Pode também ocorrer no interior de lagoas costeiras e em praias de baixa energia oceânica. Como tem estrutura e identidade, ele não deve ser considerado um ambiente de transição (ecótono), mas como ecossistema cujas plantas e animais estão adaptados a substrato de lama formada por sedimentos finos aglutinados pelo encharcamento da água e com pouco ou nenhum oxigênio (anoxia). Pode ainda ocorrer em substrato pedregoso e arenoso. Por esta razão, as espécies vegetais exclusivas dele criaram formas de adaptação, como raízes que crescem do interior para a superfície do solo a fim de respirar, com poros em suas pontas que se fecham quando a maré sobe e se abrem quando ela desce. Estas raízes são chamadas de pneumatóforos e os poros, de lenticelas. Tal é o caso do mangue branco (Laguncularia racemosa) e das duas espécies de siribeira (Avicennia schaueriana e A. germinans). Também as três espécies de mangue vermelho (gênero Rhizophora) encontradas no Brasil apresentam lenticelas nas ramificações de seu caule. 

Os manguezais são ecossistemas intertropicais, invadindo muito pouco as regiões subtropicais. No Brasil, estendem-se da foz do rio Oiapoque (AP) a Laguna (SC). As maiores áreas de manguezal do Brasil e do mundo localizam-se entre o Maranhão e o Amapá. Sua fauna pode ser permanente, como o caranguejo-uçá (Ucides cordatus) e o caranguejo aratu (Goniopsis cruentata). Há ainda o guaiamum (Cardisoma guanhumi) e outros crustáceos. A alta produtividade biológica do manguezal torna-o local rico para reprodução, para desenvolvimento de espécies marinhas e fluviais e de fabricação de alimentos. Invertebrados, peixes, répteis, aves e mamíferos freqüentam-no em caráter permanente e temporário. 
O Estado do Espírito Santo é pródigo em manguezais, muito embora sua situação não difira dos manguezais existentes em outros estados do Brasil, notadamente entre Ceará e Santa Catarina. Em todos os quais estudei entre os rios Jucu e Itabapoana, das cinco espécies existentes nas regiões sudeste e sul, encontrei o mangue-branco (Laguncularia racemosa), entre todas, a dominante, além do mangue-vermelho (Rhizophora mangle), duas espécies de siribeira (Avicennia schaueriana e A. germinans), sendo que a primeira apenas no rio Benevente, e apenas dois exemplares de mangue de botão (Conocarpus erectus), esta não considerada uma espécie exclusiva de manguezais. 

A destruição por interferência humana direta e indireta representa uma séria ameaça para este ecossistema, ainda hoje visto como ambiente putrefato e insalubre. Esta visão nos foi legada pelos europeus, que detestavam pântanos. A supressão do bosque de mangue, o avanço da agropecuária, a industrialização, a urbanização, a poluição e o turismo podem ser apontados como os principais fatores diretos de destruição. Desmatamentos acima deles, erosão, sedimentação, barragens acima e abaixo, substituição da água salobra pela água doce ou pela água salgada, estabilização da lâmina d’água são os responsáveis indiretos por sua perturbação ou degradação, levando-o mesmo à morte.

Os manguezais situados entre os rios Jucu e Iconha são todos ribeirinhos, no encontro com água doce e água salgada, menos o manguezal do rio Parati, que, por ação humana, foi parcialmente estrangulado. Dentre os problemas que mais os assolam, os principais são: 

Desmatamento: É difícil encontrar nos dez manguezais analisados indícios de desmatamento com o fim exclusivo de obter lenha, mourões para cercas, casas e tutores para plantas. Não que essa prática não tenha ocorrido. Sucede que a regeneração natural dos manguezais foi impedida pela expansão imobiliária nas áreas desmatadas. Informantes antigos residentes em todas elas, contudo, confirmam que, outrora, os manguezais forneceram matéria prima em larga escala e que, atualmente, em menor intensidade, continuam fornecendo. De um modo tal, porém, que não se efetua a abertura de clareiras. A obtenção de informações é sempre difícil porque os informantes já estão cônscios da ação de órgãos governamentais de fiscalização. Entretanto, alguns trechos dos manguezais dos rios Jucu e Una parecem evidenciar desmatamento recente e esforço da vegetação exclusiva em se recompor. 
Agropecuária. O único manguezal que apresenta marcas da agropecuária é o do pequenino rio Parati, em vários pontos barrado por um proprietário rural para impedir o avanço das marés e a salinização do solo. Sob uma estrada, foi construído um grande bueiro celular para permitir a passagem do gado sem riscos. O trecho de manguezal acima dos barramentos apresenta-se estressado em nível subletal, como veremos adiante. Nos demais, não há pegadas deixadas pela agropecuária. Se esta atividade foi praticada no passado, seus vestígios mais nítidos desapareceram, até mesmo no maior manguezal dos dez: o do rio Benevente. Subindo este rio com um barqueiro que o conhece minuciosamente, cheguei a uma construção jesuítica do século 18. Os blocos de pedra estão deslocados e o prédio, em ruínas. Nada restou da agricultura e da pecuária, provavelmente praticadas outrora. 
Urbanização. Sendo áreas muito cobiçadas pela especulação imobiliária e pela construção civil, nenhum desses manguezais examinados foi poupado por prédios residenciais e públicos e por fábricas. Neste último caso, figuram principalmente os estaleiros e os frigoríficos. Embora o governo municipal de Vila Velha (ES) tenha criado o Parque de Jacaranema para proteger o manguezal do rio Jucu, impressiona a impunidade como residências e restaurantes se assentaram sobre ele, sem qualquer respeito a sua condição de área de preservação permanente. Um pequeno curso d’água batizado de rio do Congo, que desemboca na mesma enseada onde se encontra a foz do rio Jucu, teve suas margens ocupadas por edificações. Este pequeno rio, na verdade, é um canal aberto pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) para drenar brejos que impediam a ocupação de terras, segundo informação de um pescador antigo. Ela já foi renativizado, apagando a assinatura inconfundível do DNOS. 

No rio Una, a expansão urbana sobre o manguezal foi praticada mais pela classe média e por pessoas de baixa renda, e não sem prejuízo menor para o ecossistema. Um dos casos mais graves é o do rio Perocão. A existência de restaurantes e a proximidade de Guarapari atraíram pessoas de baixa renda que construíram suas casas dentro do manguezal, avançando inclusive sobre a faixa de servidão pública do rio. Nele, a antropização se mostra tão acentuada que o manguezal corre sérios riscos de desaparecer. 
De todos os núcleos urbanos erguidos na área limitada pelos dois rios mais extremos, o maior e mais problemático é, sem dúvida, o de Guarapari. Uma foto aérea não deixa dúvida de que uma grande área de manguezal existente na Baía de Guarapari (foto), onde desembocam vários rios de pequena vazão foi engolida pela cidade. As amostras que restaram correm sérias ameaças. Os aterros crescem sobre o ecossistema já estropiado e tais acréscimos estão à venda. Existem algumas placas informado à população que manguezal é área de preservação permanente e que deve ser protegido, mas essa medida se revela inócua. 

Um pouco mais ao sul, corre o pequeno rio Meaípe, que deságua na praia do mesmo nome. Na década de 1960, ainda um povoado de pescadores, Meaípe é hoje um balneário muito procurado por seus restaurantes e hotéis. Mansões e casas pobres avançaram sobre o manguezal e estrangularam o rio. Duas pontes permitem a circulação de veículos motorizados, mas não a circulação adequada das águas sob elas. Em vez de vão aberto, as pontes passam sobre bueiros que tanto dificultam a descida da água doce quanto o avanço das marés. Acima da primeira ponte, o manguezal já foi suprimido pela invasão urbana e pela falta de água salobra. 

De todos os manguezais estudados, o do rio Benevente é o que apresenta menor grau de interferência humana, com uma bela população de mangue vermelho (Rhizophora mangle) em sua foz e uma longa faixa de vegetação exclusiva deste ecossistema rio acima. Mesmo assim, ele é afetado por obras públicas e particulares. A lagoa da Conceição, na verdade um pequeno rio que perdeu a capacidade de manter sua barra permanentemente aberta, espraia-se no apreciado balneário de Iriri. Sobre suas margens, casas ricas e pobres estão avançando rapidamente, comprometendo o pequeno manguezal. 

Por fim, a ironia maior fica reservada para o manguezal do rio Iconha, cuja foz localiza-se na praia de Piúma. Além de uma urbanização de tipo clássico, aterros foram feitos pela prefeitura, pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário para a construção de uma rodoviária, das dependências da instituição e do Fórum, respectivamente. Ministério Público e Judiciário, considerados os derradeiros bastiões na defesa do meio ambiente, dão, em Piúma, um deplorável exemplo. 

Poluição. É notória a poluição por esgoto doméstico, por óleo e por lixo dos dez manguezais estudados. A discussão a respeito dos males causados pelo esgoto orgânico sobre manguezais é ainda controversa. Ambiente rico em matéria orgânica decomposta, o manguezal tolera bem o esgoto doméstico. Na praia de Imbetiba, em Macaé (RJ), uma pequena carga de esgoto vem favorecendo o desenvolvimento de um manguezal mono-específico. Todavia, deve-se ter em conta que a matéria orgânica diluída contamina a água, tornando-a imprópria para recreação por contato primário, confere-lhe mau cheiro, compromete a estética do ambiente e pode saturar a lama do manguezal, tornando-o mais pobre em oxigênio do que já é. 

O lixo também afeta o manguezal, dificultando a troca de gases pelas raízes respiratórias. Por sua vez, o óleo em grande quantidade pode ser mortal para o ecossistema. Em doses pequenas e contínuas, ele causa estresse sub-letal ao ecossistema. Este caso pode ser comprovado no manguezal do rio Guaxindiba (RJ), onde ancoram muitos barcos de pesca que lançam o óleo em suas águas. Sistema aberto, o rio lança as águas oleosas ao mar, porém as marés provocam seu retorno. Ele adere às lenticelas e impede a ventilação da planta. 

Turismo. É uma falácia conceber o turismo como uma atividade anódina. Ela é perigosíssima, sobretudo quando se esconde sob o rótulo de ecoturismo. Por trás dele, há uma atividade que explora de forma predatória os atrativos turísticos. Felizmente, o manguezal ainda não é visto como um ambiente propício ao turismo. Nem por isto, ele é poupado. Nos manguezais aqui examinados, o turismo é pouco explorado. Os que mais sofrem com o turismo são os de Meaípe, Parati e Iriri. Os outros desembocam em praias plebéias ou conspurcadas pela própria presença do manguezal, que ainda é visto pelo turista mediano como ambiente pútrido e fétido. 
Obras públicas e particulares. Há intervenções em bacias hídricas que não são executadas em áreas de manguezal, mas que podem atingi-lo profundamente em seu coração, levando-o mesmo à morte. Barragens na foz de um rio ou em algum trecho de seu curso podem dar-lhe o caráter de lagoa ou reduzir o aporte de água doce. Quando a barra do rio não é fechada por ação antrópica, represamentos acima causam diminuição de vazão e vitória do mar sobre o rio, fechando sua foz ou salinizando-o excessivamente. Quando o sistema se fecha, a lâmina d’água se eleva e submerge as raízes respiratórias em caráter prolongado. Se não morrem, as plantas de manguezal entram em estresse. Para sobreviver, o mangue branco (Laguncularia racemosa) e a siribeira (Avicennia schaueriana e A. germinans) costumam emitir raízes adventícias das quais brotam raízes respiratórias acima da linha d’água para continuar a exercer suas funções vitais. No mangue vermelho (Rhizophora mangle), as lenticelas deslocam-se para a parte emersa das ramificações do caule. Quando a lâmina d’água se torna mais delgada, mas ainda mantendo submersos os pneumatóforos, seu aquecimento pelo sol pode também causar estresse às plantas. 

Os represamentos que fecham bacias e enclausuram manguezais podem alterar o teor de salinidade da água, quer reduzindo-o drasticamente, quer concentrando-o excessivamente. No primeiro caso, a substituição da água salobra pela água doce cria condições para a invasão de plantas aquáticas e semi-aquáticas que competem com as plantas exclusivas de manguezal, podendo mesmo vencê-las. No segundo caso, o aumento da salinidade ultrapassa a capacidade das plantas de lidar com essa alteração. O consumo de energia despendido leva-as a não alcançar o pleno desenvolvimento. 

O rio Parati foi barrado nas adjacências da foz. O trecho do manguezal abaixo da barragem continua sofrendo influência das marés e não apresenta sinais de estresse, apesar de estar havendo invasão de plantas competitivas. Acima da barragem, a biodiversidade empobreceu-se e os exemplares de mangue branco (Laguncularia racemosa) emitiram raízes adventícias para sobreviver às novas condições, enquanto os poucos exemplares de mangue vermelho (Rhizophora mangle) mostram lenticelas deslocadas para a parte emersa das ramificações do caule. Na lagoa da Conceição, uma barragem pouco acima da foz produziu alterações de vazão que se refletiram na foz. Atualmente, ela não consegue se manter aberta em caráter permanente. O manguezal que se desenvolveu na parte baixa do rio está sob estresse com a lâmina d’água oscilando lentamente. Além do mais, a dulcificação da água favoreceu a entrada de espécies oportunistas e concorrentes. 

O caso mais radical neste trecho da costa não entrou na presente lista. Trata-se da lagoa de Maimbá, uma extensa lagoa costeira cheia de meandros que, segundo informações de um morador bastante idoso, tinha comunicação permanente com o mar e, por isso, abrigava um manguezal nas proximidades costeiras. Para obter água doce, a empresa de mineração Samarco construiu um sistema de bueiros permitindo que apenas a água da lagoa vertesse para o mar, bloqueando a água salgada das marés. A lâmina d’água tornou-se espessa e estável por longo período. O manguezal pereceu e espécies vegetais resistentes à água doce invadiram a lagoa. Mas mesmo para estas, como é o caso do algodoeiro-da-praia (Hibiscus pernanbucensis), foi necessário disparar mecanismos de adaptação. Vários exemplares desta espécie apresentam raízes adventícias, a exemplo do mangue branco e da siribeira sob estresse. 

Para todos os manguezais do Brasil, o futuro é sombrio. Ele não deixaria, portanto, de ser sombrio para os que passamos em revista neste artigo. Estudar sua história, demarcar suas áreas originais da maneira mais aproximada possível, remover as construções erguidas em seu âmbito, sustar o despejo de resíduos líquidos e sólidos, promover a sua restauração e revitalização com aumento da biodiversidade... tudo parece uma quimera. Edgar Morin tornou-se pessimista por causa dos rumos seguidos pela humanidade. Contudo, ele não se deixa vencer, sempre confiando num acaso modificador, num acontecimento imprevisível que possa construir um outro caminho para que os seres humanos sobrevivam ao nosso modo ecologicamente insustentável de civilização. Penso como ele.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Manguezais

Manguezal é uma zona úmida, definida como “ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés” (SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal ecossistema entre a terra e o mar.São Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995, p. 7). 

Os manguezais são formados por uma série de fisionomias vegetais resistentes ao fluxo das máres- e, portanto, ao sal -, desde árvores e outras espécies arbustivas, passando por bancos de lama e de sal, salinas e pântanos salinos. Entre essas fisionomias estão os apicuns, também chamados de "slagados". Cientificamente são definidos como um ecótono, uma zona de transição, de solo geralmente arenoso, sem cobertura vegetal ou abrigando uma vegetação herbácea. ( Adaptado do artigo de QUARTO, A. Brazil's Shrimp Farm Industry: Not for the Birds. Mangrouve Action Project - MAP )

Segundo o mapeamento realizado pelo MMA em 2009, os manguezais abrangem cerca de 1.225.444 hectares em quase todo o litoral brasileiro, desde o Oiapoque, no Amapá, até a Laguna em Santa Catarina, constituindo zonas de elevada produtividade biológica, uma vez que acolhem representantes de todos os elos da cadeia alimentar. Estão morfologicamente associados a costas de baixa energia ou a áreas estuarinas, lagunares, baías e enseadas que fornecem a proteção necessária ao seu estabelecimento (DIEGUES, A. C. Povos e Águas - Inventário de áreas úmidas brasileiras. 2 ed. São Paulo. Nupaub/USP, 2002. p 15-18.).

As maiores extensões de manguezais da costa brasileira ocorrem entre a desembocadura do rio Oiapoque, no extremo norte, e o Golfão Maranhense, formando uma barreira entre o mar, os campos alagados e a terra firme. Do sudeste maranhense até o Espírito Santo, os mangues são reduzidos e estão associados a lagunas, baías e estuários. 

Na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, esse ecossistema apresenta grande extensão novamente, apesar do intenso processo de degradação que sofre. O Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia e Paranaguá, situado entre os estados de São Paulo e Paraná, representa uma das reservas de mangues mais importantes do país (DIEGUES, 2002). 

A conservação dos manguezais em toda sua extensão, incluindo os apicuns, reveste-se igualmente de importância social por serem considerados berçários para os recursos pesqueiros, sustentando direta ou indiretamente mais de 1 milhão de pessoas. A ocupação desordenada ao longo da costa brasileira vem causando perda e fragmentação deste habitat, pela conversão destas áreas em carcinicultura, ocupações humanas e áreas destinadas ao turismo. Na última década, essa ocupação desordenada vem sendo alvo de sucessivas denúncias encaminhadas ao poder público, incluindo ao MMA. Em regiões de manguezais, essa atividade ocasiona não só degradação ambiental, mas também grandes perdas sociais e econômicas.

*Texto extraído, com modificações, de Prates, A.P. Gonçalves,M.A e Rosa, M., 2012 .Panorama da Conservação dos ecossistemas Costeiros e Marinhos no Brasil. 2 ed. rev. ampliada - Ministério do Meio Ambiente. Brasília, MMA. 


Projeto de Conservação Efetiva e Uso Sustentável dos Manguezais no Brasil em Áreas Protegidas – GEF-Mangue 

Conhecido como GEF-Mangue, esse projeto foi elaborado com o objetivo de desenvolver e fortalecer uma rede de áreas protegidas para o ecossistema dos mangues no Brasil, por meio de mecanismos políticos, financeiros e regulatórios; do manejo ecossistêmico da pesca; da coordenação dos instrumentos de planejamento territorial com a gestão das unidades de conservação e da disseminação dos valores e funções dos manguezais. Com esse projeto, pretende-se construir a base para a melhoria da conservação e do uso sustentável dos manguezais do país. 

O MMA coordena, junto com o ICMBio, o GEF-Mangue (www.icmbio.gov.br). Entre as ações implementadas, destaca-se a elaboração do Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável de Manguezais e diagnóstico do avanço de tais ameaças, inclusive em manguezais contidos em unidades de conservação, tanto nas APAs como nas reservas extrativistas, criadas para conter sua degradação e propiciar o uso sustentável desse ecossistema, principalmente pelas populações locais. A Figura 1 informa a área de manguezais ocupadas por carcinicultura em cada Unidade da Federação.

Estimativas indicam que aproximadamente 25% dos manguezais brasileiros já tenham sido destruídos, tendo a aquicultura e a especulação imobiliária como suas principais causas. Entre os primeiros resultados desse projeto está a produção de um diagnóstico sobre os impactos da carcinicultura nos manguezais brasileiros, trabalho que visa orientar medidas para sua conservação. 

O Projeto, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais CNPT - ICMBIO, conta com um espaço institucional com representação governamental e da sociedade, a Comissão Técnica sobre Manguezais – CT sobre Manguezais criada no âmbito do Comitê Nacional de Zonas Úmidas.

A CT sobre Manguezais realiza o monitoramento da execução do Projeto Manguezais do Brasil e atua como espaço para a atualização das informações relevantes do Projeto e seus resultados alcançados.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Biomas brasileiros


FLORESTA AMAZÔNICA

Dentro de ecologia, os biomas são espaços geográficos que apresentam diversos ecossistemas, dentro de uma certa homogeneidade. São uma unidade biológica caracterizada pelo clima, a vegetação e o solo específicos. O Brasil apresenta apresenta uma variedade de biomas, devido a sua extensão territorial, sobretudo pelos tipos de cobertura vegetal, com uma enorme diversidade de fauna e flora.

A Floresta Amazônica é o maior bioma brasileiro, representando cerca de 40% de todo o nosso território. A maior floresta tropical do mundo fica distribuída pelos estados do Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Maranhão, Pará, Amapá, Mato Grosso e Tocantins.
Floresta Amazônica possui clima equatorial: úmido e quente (Foto: G1)Floresta Amazônica possui clima equatorial: úmido e quente (Foto: G1)
A vegetação é densa, com árvores altas muito próximas uma das outras, o que caracteriza uma mata fechada, com árvores como jacarandá, imbuia, peroba, entre outras. Outra característica dessa vegetação é que as árvores apresentam folhas largas e grandes como adaptação do clima úmido e quente. A fauna abriga uma grande diversidade, como o jacaré-açu, sapo-pipa, preguiça-real, arara-canindé, espalhado entre florestas e rios.

PANTANAL

Pantanal, com vasta planície inundada (Foto: Agron)Pantanal, com vasta planície inundada (Foto: Agron)
Localizado no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal abriga grande variedade de flora e fauna. A flora conta com espécies típicas de outros biomas e do próprio local, como buriti, manduvi e carandá. O pantanal possui uma vasta planície de inundação, apresenta um clima predominante tropical continental com altas temperaturas e chuvas, de verão chuvoso e inverno seco nos períodos de chuva.  
Há uma diversidade de aves, incluindo a arara-azul, jaburus, colhereiros, entre outros. Além das aves, outros animais são típicos do pantanal, como o dourado, piranhas, sucuri, cervo-do-pantanal, ariranhas, onça-pintada, jacaré-de-papo-amarelo, entre outros. Na flora, há presença de gramíneas, arbustos, palmeiras e árvores comuns da floresta tropical. 

MATA ATLÂNTICA

Localizada entre o Rio Grande do Norte até a Região Sul, a Mata Atlântica conta com apenas 7% da distribuição original nas encostas das serras e planícies litorâneas, por conta do desmatamento. É o bioma mais devastado do Brasil.
Mata Atlântica é rica em biodiversidade, mas sofre com desmatamento (Foto: Flickr)Mata Atlântica é rica em biodiversidade, mas sofre com desmatamento (Foto: Flickr)
Apresenta clima predominante é tropical-úmido, com temperaturas e índice pluviométrico altos.   Esse bioma apresenta diversos ecossistemas e também inclui grande diversidade de flora e fauna. A flora conta com pau-brasil, jacarandá, bromélias e orquídeas e a fauna com a onça-pintada, mico-leão-dourado e uma diversidade enorme de aves. Grande parte destes animais estão sob ameaça de extinção.

OUTROS

Caatinga
A caatinga está localizada na Região Nordeste e parte de Minas Gerais. Apresenta temperaturas elevadas com secas longas, dessa forma possuindo um clima semi-árido. A vegetação predominante da caatinga possui adaptação contra perda de água, como presença de espinhos nas cactáceas, e reserva de água, como ocorre no juazeiro, por exemplo. 
Flora e fauna da Caatinga (Foto: Reprodução)Flora e fauna da Caatinga (Foto: Reprodução)
A fauna da caatinga inclui a ararinha-azul, periquito da caatinga, carcará, entre outros animais, alguns destes também estão ameaçados de extinção. Além disso, neste bioma há uma grande quantidade de insetos.

Cerrado
Predomina em Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins. Possui um clima tropical sazonal e inclui uma vegetação rasteira como as gramíneas, mas possuindo alguns arbustos e árvores de casca grossa e galhos retorcidos.
Vegetação típica do Cerrado (Foto: Caliandra do Cerrado)Vegetação típica do Cerrado (Foto: Caliandra do Cerrado)
Essa vegetação é característica deste bioma já que ele apresenta um solo pobre de alguns minerais e com excesso de alumínio. Além disso, possuem raízes profundas que são capazes de absorver água dos lençóis subterrâneos, como ocorre em alguns representantes, como o araçá, o pau-terra, entre outros. Os representantes da fauna deste bioma são a ema, a maior ave das Américas, tamanduá-bandeira, lobo-guará, entre outros.
Manguezal (Foto: Rede Globo)Manguezal (Foto: Rede Globo)
Manguezal
É um bioma distribuído do Amapá até Santa Catarina em regiões litorâneas. O manguezal é uma transição entre o mar e a terra. Apresenta uma vegetação bem característica, seus arbustos possuem raízes altas, acima do solo, já que o manguezal possui um solo lodoso, com pouca quantidade de oxigênio. O manguezal é conhecido como berçário, já que muitas espécies de animais marinhos usam esse bioma para reproduzir.

Mata dos cocais
A mata dos cocais é distribuída entre os estados do Maranhão e Piauí. É um bioma de transição, dessa forma apresenta características da Floresta Amazônica, Cerrado e da Caatinga. Possui alto índice de chuvas. A flora inclui palmeiras com folhas grandes e finas, como a carnaúba, buriti e o babaçu, já a fauna inclui répteis, aves e mamíferos roedores.

Pampas
Os pampas ocorrem no Rio Grande do Sul, são conhecidos como campos limpos por ser uma vegetação predominante de herbáceas, muito utilizada na criação de gado. A maior parte deste bioma foi desmatada para dar lugar a lavouras. Apresenta clima subtropical, sendo as quatro estações do ano bem definidas.

Mata de Araucárias
Localizado principalmente na Região Sul, no Estado do Paraná e Santa Catarina, também atingindo parte de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A vegetação predominante é a presença do pinheiro-do-paraná, além da canela e imbuia. Por conta do desmatamento, hoje essa mata possui apenas 2% da área original.
Mata de araucárias no Sul (Foto: Rede Globo)Mata de araucárias no Sul (Foto: Rede Globo)

EXERCÍCIOS

(UFPR- 2011) O território brasileiro possui diversos biomas, entre os quais se destacam a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Mata Atlântica. Sobre esses biomas, é correto afirmar:
a) O cerrado, que se localiza na região central do Brasil, tem como característica a formação em solos pobres e arenosos e, em consequência, é pouco ameaçado pela expansão agrícola.

b) A Floresta Amazônica, formação localizada notadamente no norte do Brasil, tende a desaparecer nas próximas décadas, haja vista que o desmatamento e as queimadas têm seus índices elevados ano a ano, evidenciando a ausência de políticas públicas voltadas à conservação daquela floresta.

c) A Mata Atlântica, formação que se estendia desde o litoral nordestino ao Rio Grande Sul, onde se localiza boa parte dos maiores centros brasileiros, foi o bioma mais desmatado do país, motivo pelo qual seus remanescentes foram transformados em unidades de conservação, o que lhe garante a maior extensão em áreas preservadas do Brasil.

d) Uma característica comum entre esses três biomas é que todos apresentam elevada biodiversidade e presença de espécies endêmicas, evidenciando que todos precisam ser igualmente preservados.

e) No Norte do Brasil, a urbanização excessiva das cidades tem como consequência o desmatamento e as queimadas, comprometendo a conservação da floresta, fato que frequentemente ganha grande dimensão na imprensa

Gabarito
Letra D. Os biomas possuem uma grande diversidade de fauna e flora e representam uma enorme importância de preservação destes biomas.

(UFSC 2010) Sobre as formações fitogeográficas ou Biomas existentes no Brasil, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).
1. O Cerrado é uma formação fitogeográfica caracterizada por uma floresta tropical que cobre cerca de 40% do território brasileiro, ocorrendo na Região Norte.
2. A Caatinga é caracterizada por ser uma floresta úmida da região litorânea do Brasil, hoje muito devastada.
4. O Mangue ocorre desde o Amapá até Santa Catarina e desenvolve-se em estuários, sendo utilizados por vários animais marinhos para reprodução.
8. O Pampa ocorre na Região Centro-Oeste onde o clima é quente e seco. A flora e a fauna dessa região são extremamente diversificadas.
16. A Floresta Amazônica está localizada nos estados do Maranhão e do Piauí e as árvores típicas dessa formação são as palmeiras e os pinheiros.
32. O Pantanal ocorre nos estados do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, caracterizando-se como uma região plana que é alagada nos meses de cheias dos rios.
64. A Mata Atlântica é uma formação que se estende de São Paulo ao Sul do país, onde predominam árvores como o babaçu e a carnaúba, e está muito bem preservada.

Somando apenas os valores das alternativas corretas teremos um total de:
a) 36 pontos     b) 100 pontos     c) 13 pontos   d) 37 pontos     e) 24 pontos

Gabarito
Letra A. 36 (04+32) – (1) Falso – O cerrado não é uma floresta tropical. Apesar da ocorrência desse tipo de vegetação em várias regiões brasileiras, o cerrado é predominante no Centro-Oeste; (2) Falso – A caatinga é um bioma típico do sertão nordestino, onde prevalece uma vegetação característica de regiões semiáridas. (4) Verdadeiro; (8) Falso – O pampa é o tipo de cobertura vegetal predominante no Rio Grande do Sul. Na Região Centro-Oeste, prevalece o bioma cerrado; (16) Falso – A Floresta Amazônica cobre toda a região Norte do Brasil. As palmeiras e os pinheiros não são árvores típicas desse bioma; (32) Verdadeiro; (64) Falso – A Mata Atlântica está presente na porção leste do território nacional, estendendo-se do Piauí ao Rio Grande do Sul. O babaçu e a carnaúba são árvores típicas do bioma Mata dos Cocais. A Mata Atlântica é o bioma mais devastado do Brasil. 

(MACKENZIE) Observe o mapa e assinale a alternativa que corresponde à formação vegetativa da área destacada e a suas características.
Mapa da região (Foto: Reprodução/Mackenzie)Mapa da região (Foto: Reprodução/Mackenzie)
a) Cerrado – pertencente à classificação do bioma savana, possui grande biodiversidade e forma ecossistemas ricos, com espécies variadas como o pau-santo, o barbatimão, a gabiroba, o pequizeiro e a catuaba.

b) Mata dos Pinhais – chamada também de floresta aciculifoliada, está localizada em clima úmido, com temperaturas de moderadas a baixas no inverno; tem em sua constituição predominantemente o pinheiro.

c) Mata dos Cocais – chamada também de mata de transição, é constituída de palmeiras ou palmáceas, com grande predominância de babaçu e ocorrência de carnaúba.

d) Campos Naturais – formações rasteiras ou herbáceas, constituídas por gramíneas que atingem até 60 cm de altura; têm origem associada a solos rasos e a áreas sujeitas a inundações periódicas, ou, ainda, associada a solos arenosos.

Gabarito
Letra C, pois a mata dos cocais fica situada entre os estados do Maranhão e Piauí. 

(UFPI) Sobre o bioma que compreende o Cerrado brasileiro, é correto afirmar que:

a) é encontrado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, por conta das densas redes hidrográficas regionais.
b) tem vegetação arbustiva, caducifólia com raízes profundas, galhos retorcidos e casca grossa.
c) cobre 2 milhões de km2 do território nacional, sendo 80% inexplorados.
d) apresenta duas espécies vegetais dominantes, o buritizeiro e o pequizeiro, não exploradas economicamente.
e) tem solos de pouca profundidade o que facilita a infiltração das águas que corrigem a acidez dos solos.

Gabarito
Letra B. A vegetação do cerrado é conhecida pela presença de arbustos de galhos retorcidos e raízes profundas, já que seu solo é pobre de alguns minerais e com excesso de alumínio. 
Priscilla Moniz
Professora de Biologia do Colégio Qi