sábado, 28 de janeiro de 2012


Selic ficará abaixo de dois dígitos

Publicação: 27 de Janeiro de 2012 às 00:00

Brasília (AE) - O recado foi claro: o juro cairá para um dígito em breve. Diante da decepção com a economia, que cresceu menos que o esperado no segundo semestre de 2011, e sem luz no fim do túnel da crise europeia, o Banco Central avisou ontem que é "elevada a probabilidade" de que a taxa básica da economia, a Selic, siga em queda em direção ao nível de um dígito. A luz amarela acendeu nos últimos dias com a constatação de que a economia tem girado em ritmo menor que o previsto. Até dezembro, o BC projetava uma expansão de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011. Mas, segundo apurou o Estado, em pouco mais de 40 dias dados econômicos frustraram as expectativas ao revelar que a expansão foi mais fraca: entre 2,7% e 2,8%.

Atualmente em 10,5%, o juro cairá sem aumentar a inflação porque o Brasil, no entender do BC, já é beneficiado pela queda da chamada taxa de juro neutra - que permite à economia crescer sem pressionar os preços.

Entre os fatores que explicam a queda do juro neutro brasileiro, o BC lista o menor risco Brasil para os estrangeiros, a estabilidade macroeconômica e os avanços institucionais. "Todas essas transformações caracterizam-se por um elevado grau de perenidade. Embora, em virtude dos próprios ciclos econômicos, reversões pontuais e temporárias possam ocorrer", ressaltaram os diretores do BC na ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em um texto mais direto que os anteriores, o documento divulgado ontem pelo BC explicitou a preocupação com o ritmo da economia. Com crescimento mais lento, o Copom entende que a demanda reagirá menos e, por consequência, a pressão de alta sobre os preços será menor. Por isso, há espaço para cortar ainda mais os juros, que já caíram 2 pontos porcentuais desde agosto, em quatro cortes seguidos de 0,50 ponto cada.

A avaliação do BC para os demais indicadores econômicos continua igual. Portanto, a instituição rejeita a percepção de alguns economistas de que a análise sofreu uma "guinada". Ao contrário. O rumo da leitura é o mesmo e, agora, ainda mais aprofundado. Diretores também rechaçam a análise de que a ata teria sido influenciada pela sinalização feita um dia antes pelo Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, de que o juro seguirá baixo naquele país até 2014 porque a maior economia do mundo não deve reagir nesse período.

Para o Bradesco, a ata deixou claro que a Selic atingirá, pelo menos, o nível de 9,75% nos próximos meses. "Se o nosso cenário se confirmar, de retomada gradual do PIB e inflação bem comportada no primeiro trimestre, a Selic deverá atingir 9,5% em maio", prevê a instituição.

O banco chama a atenção para o fato de que o documento não usou o termo "ajustes moderados" ao tratar dos cortes de juro, como nos últimos meses. Isso sugere que "as portas ficam abertas para que o passo de redução mude para 0,25 ponto". Desde agosto, a taxa tem caído em doses de 0,50 ponto. Dessa maneira, o Bradesco prevê mais três cortes do juro em breve: 0,5 ponto em março e 0,25 ponto nos encontros de abril e maio. 

"Nunca vi uma ata tão explícita"

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que na semana passada reduziu em 0,50 ponto porcentual a taxa básica de juros, para 10,50% ao ano, foi "anormalmente explícita" na sinalização de que vai continuar cortando juros. A avaliação é do economista-chefe do HSBC Bank Brasil, André Loes, que destaca, em especial, o parágrafo 35 do documento. No referido trecho da ata lê-se que "(...) o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito".

"Eu nunca vi uma ata tão explícita como essa", reforça o economista-chefe do HSBC. Segundo ele, o Copom foi mais direto do que o normal. "Isso está em linha com nosso cenário que contempla mais três cortes de 0,50 ponto porcentual da Selic, para 9% ao ano", informa Loes. Está em linha também, de acordo com ele, com a política geral do governo, que pretende fazer uma política econômica mais forte para obter uma política fiscal mais consistente e dar mais espaço para a política monetária.

"Eu tenho minhas dúvidas quanto à execução da política fiscal, entre outras coisas por causa do aumento do salário mínimo e porque a desaceleração dos gastos em infraestrutura no ano passado, apesar de ter sido resultado de uma tentativa de fazer ajuste fiscal, contou com aquele monte de mudanças no Ministério dos Transportes, que é uma pasta gastadora neste sentido", explica Loes.

"Acho que estes dois pedaços - despesa já contratada com aumento do salário mínimo, que bate nos gastos das Previdência, e o aumento dos gastos em infraestrutura - vão tornar difícil a repetição do nível de primário do ano passado." E continua: "Acho que a decisão de 0,50 ponto porcentual é compatível com essa visão que a gente tem e também com o nosso call, que é de mais cortes de juros que a média do mercado".

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