Assim como a redução e a intensidade do corte, o comunicado do BC surpreendeu porque demonstra que o Copom precisa de muitos argumentos para convencer a todos de que a decisão teve respaldo técnico e não político. Mesmo com tantos motivos apresentados, Alexandre Tombini não escapou da percepção de que cedeu ao governo e colocou a credibilidade do BC em xeque.
Uma fonte graduada no mercado financeiro, que chegou a defender uma queda nos juros para reforçar a economia brasileira contra a crise, se surpreendeu com a ousadia do BC. ” Foi uma ‘mega-canetada’. Pela primeira vez no regime de metas (para inflação). Um atraso institucional que eu jamais imaginaria”, sentenciou.
Há dias o BC vem sendo pressionado politicamente a baixar os juros para “proteger o Brasil” de uma piora da crise internacional. A presidente Dilma Rousseff foi a protagonista do episódio mais recente dos apelos ao BC. Nesta terça-feira, há um dia da decisão, Dilma declarou que já era possível “ver um horizonte para a redução dos juros no País”.
No comunicado do Copom, a ênfase na piora do cenário externo e a justificativa de que uma queda mais acentuada na economia mundial pode provocar um recuo na inflação brasileira, indicou o horizonte esperado pelos diretores do BC. “Dessa forma, o Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante”, diz o primeiro parágrafo do comunicado.
Em comentário enviado a clientes logo após a decisão, o banco Morgan Stanley avaliou que “dadas as condições atuais da economia brasileira, o corte (de 0,50pp) pode se provar antecipado. Os riscos inflacionários continuam altos no país e, a não ser que ocorra uma brusca deterioração na economia mundial, a inflação vai continuar elevada”.
Numa síntese provocativa, um economista ouvido pelo G1 avaliou a expectativa do BC. “O Copom está contando com uma piora no quadro internacional para que a nossa inflação volte para a meta de 4,5% em 2012 sem que o BC adote novas medidas. Ou seja, o trabalho de combate à nossa inflação não é mais problema nosso”.
Nas economias modernas, é igualmente tarefa da autoridade monetária coordenar as expectativas dos agentes econômicos sobre suas decisões para reduzir os custos que as incertezas podem provocar na economia.
Onde as instituições são fortes e representativas, a mistura entre os desejos da política e as obrigações com a estabilidade econômica podem desqualificar aqueles que tomam as decisões mais amargas. Em economia é fundamental decidir pelo menor custo e maior estabilidade no tempo, não no momento!
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